A excitação sexual

A excitação sexual é a situação do corpo que prepara e torna possível esse acto de entrega total que é o amor. Portanto, é, em si própria, algo de bom. Quando prepara para o amor entre os esposos, a ternura física exprime essa verdadeira união pessoal entre duas pessoas que se entregaram para a vida inteira. Nesse momento, isso é o verdadeiro amor e sabe a amor. A excitação tem sentido quando se vai realizar o acto conjugal. E este tem sentido quando é verdadeiramente "fazer amor", dentro do casamento.

Por isso, fora dessa situação, a excitação sexual perde o seu sentido real. Não tem nada de grande, nada de nobre, nada de santo que exprimir e preparar. Converte-se em simples carne e vive-se como fonte de prazer egoísta. É uma mentira que corrompe o sentido e a realidade do sexo como expressão do amor. E então há que cortar antes que a excitação aumente.

As condições da nudez

Quando determinadas circunstâncias profissionais exigem que uma pessoa se dispa, para salvar a intimidade e a dignidade pessoal requerem-se um conjunto de condições que defendam essa dignidade. Em primeiro lugar, ante o perigo sempre real de uma inadequada interpretação dessa situação, é preciso que essa nudez seja necessária para um fim digno e nobre. É o caso de uma consulta médica ou de um modelo artístico. A dignidade própria da relação médica ou da autêntica criação de beleza fazem com que a nudez fique justificada.

Mas é necessário criar uma situação adequada, que afaste todo o perigo para a dignidade pessoal do paciente ou do modelo. A presença duma terceira pessoa na consulta médica foi sempre um factor elementar de prudência, já que anula uma série de possíveis dificuldades e favorece a percepção dos aspectos estritamente profissionais da situação.

No caso do modelo de arte, a rectidão e limpeza da situação fica afirmada pela seriedade, a profissionalidade, a amplitude e a distância necessárias e pela ausência de qualquer outro factor que não seja a busca da beleza. Muitos pintores e estudantes de belas-artes poderão confirmar que essa busca justifica a necessidade da nudez e torna digna a situação do modelo. Do mesmo modo, outros poderão saber que, por não cuidar dos pormenores, essa relação pode-se corromper e ser ocasião de mal.

A intimidade corporal e a entrega

Uma vez que as condições ambientais, técnicas, culturais, estabelecem as leis próprias do pudor, define-se espontaneamente a fronteira entre o pudico e o impudico. E estabelece-se o limite natural da intimidade pessoal. O vestuário tem a função de personalizar o corpo, de expressar a própria personalidade. Por isso tem a função de estabelecer o grau de relação com uma determinada pessoa. Quando as leis do pudor estabeleceram o que define a intimidade corporal, estabelece-se uma união entre a intimidade pessoal e a intimidade corporal. As duas caminham a par, porque a pessoa é ao mesmo tempo corpo e espírito. Quando se entrega o corpo, entrega-se a própria pessoa. E quando se abre a intimidade corporal, abre-se a intimidade pessoal. Separar esses dois factores produz uma ruptura interior da pessoa. Como a pessoa é indissociavelmente corporal, para criar um espaço de intimidade espiritual, de riqueza interior pessoal, tem de se criar um espaço de intimidade corporal. Todos os torturadores sabem que a nudez corporal é um modo muito eficaz de rebaixar e destruir a dignidade e a resistência interna das pessoas. Quando uma pessoa não defende a sua própria intimidade corporal, isso significa que não tem uma intimidade pessoal a salvar.

A prostituição destrói o mais íntimo das pessoas, por isso provoca tanta pena ou tanta repugnância. Quem entrega o corpo sem entregar a alma, prostitui-se. Quem entrega a intimidade corporal sem entregar a intimidade pessoal, prostitui-se.

Por isso, a nudez, a abertura da intimidade corporal, deve estar sempre ligada à entrega mútua e total da própria pessoa, que se realiza no matrimónio. A nudez é sinal de abandono e entrega plena, por isso tem de haver uma entrega mútua e para sempre; doutra forma, haveria prostituição por parte de um ou de outro. Se a nudez não é expressão de uma entrega pessoal, então é porque essa pessoa se está apresentando perante os outros como simples objecto, com o seu inevitável valor sexual em primeiro plano.

Atractivo sexual da mulher

Há um modo de olhar para uma mulher que leva a dizer - Que bonita que é! E há outro modo de olhar que leva a dizer - Que boa que ela é! Se fôssemos pela rua com a nossa mãe ou a nossa irmã e ouvíssemos o primeiro, ficaríamos orgulhosos. Mas, se ouvimos o segundo, ficaremos irritados e com razão. Porque o primeiro é admirar uma mulher, o segundo significa que se olha para ela como objecto sexual. O primeiro é bom, o segundo mau.

Estou a referir-me ao que os homens experimentam em relação às mulheres, porque nisto homens e mulheres são muito diferentes. A mulher não sente essa atracção automática da carne perante o corpo de um homem. Pelo contrário, o homem sente-o perante o corpo da mulher. Por não saberem isto, muitas mulheres interpretam duma forma errada os olhares de muitos homens. Se supõem que são olhadas com admiração, pensam que se referem a elas como pessoas e não sabem que, muitas vezes, se referem simplesmente ao seu corpo de mulher.

Não sabem que o homem tende espontaneamente a fixar-se nos aspectos meramente carnais, no que a mulher tem de objecto. E por isso cometem o erro de quererem chamar a atenção jogando com aquilo que é propriamente sexual. Se soubessem o que passa muitas vezes pela cabeça dos homens que as olham, e o desprezo que muitas vezes provocam neles, ficariam muito surpreendidas. E algumas vezes dizem que os homens são umas bestas ou uns porcos, quando eles são, simplesmente, homens provocados na sua fraqueza pela ignorância vaidosa de uma mulher.

O carácter pessoal do corpo

O corpo é uma parte da personalidade humana. Como vimos, somos pessoas de carne e osso e para nos expressarmos e realizarmos necessitamos do nosso corpo. Fazemos tudo através dele. Para que essa expressão e realização saia bem temos de treinar o corpo. Há que aprender a dançar, a escrever, a andar, a falar, a pintar, a praticar qualquer desporto, a cantar e inclusive a comer. Se não, essas actividades fazem-se mal, duma forma tosca, sem graça, como pessoas incultas ou como animais. Para todo o tipo de expressão é necessário ter um corpo bem treinado. Esse treino é o modo de "personalizar" o corpo, para que não seja simplesmente carne e osso, mas expressão do meu eu, dos meus gostos, da minha pessoa. Através do treino e da educação, o corpo integra-se na nossa personalidade e permite-nos desenvolvê-la. O treino faz que a unidade de alma e corpo seja algo operativo, prático.

Se não há treino, ainda que a pessoa queira expressar-se e realizar-se, não poderá, sentirá a frustração de não poder comunicar o que tem dentro, de não poder realizar os seus sonhos. Em lugar de cantar, sairão uns uivos próprios de animais; em lugar de dançar, uns movimentos desajeitados e ridículos; em lugar de saber exprimir-se, falará como um inculto e não poderá transmitir o que sente; em lugar de comer com dignidade, parecerá um animal que satisfaz os seus instintos e provocará repugnância. Isto é uma coisa que todos sabemos.

Ora bem, o mesmo se passa com a nossa sexualidade. É a expressão corporal da nossa capacidade de amar e de nos entregarmos por inteiro, mas se não a educarmos, em lugar de servir para expressar e realizar o amor, arrastar-nos-á a comportar-nos como animais, como se passa com quem não sabe falar ou não sabe comer. Que a sexualidade seja expressão de amor é algo exclusivo e típico do homem. E, como tudo o que é tipicamente humano, é algo que está por realizar, algo que há que conseguir com base no exercício da própria liberdade.

Sexo e amor

A constituição sexual do homem está orientada para a paternidade. E a paternidade é fruto do amor. O acto sexual não é um simples meio para a procriação, mas tem de expressar corporalmente toda a ternura do amor que uma mulher necessita. Devia perguntar-se se, o ambiente e a imagem do homem e da mulher que oferecem os meios de comunicação, permite ao homem viver o seu próprio sexo como instrumento e expressão da delicadeza e ternura próprias de um amor total.

Porque o sexo do homem é o veículo para transmitir o seu amor à mulher com a qual unirá a sua vida, é com o seu corpo que terá de exprimir a plenitude da sua entrega enamorada. Ora, a imagem que muitos homens têm do sexo não é precisamente a do veículo para expressar o terno e profundo amor à mulher amada.

A influência do ambiente faz que, na experiência de muitos homens, a imagem do enamoramento e da ternura esteja dissociada da imagem corporal do seu sexo. E isso dá que pensar. Porque não se pode pedir outro corpo, quando se quiser amar com ternura e profundidade. Sexo e amor são, de per si, duas faces da mesma realidade. Quando a experiência comum é a de desagregação podemos garantir que se introduziu um factor de corrupção na imagem social da sexualidade.

O sexo do homem está feito para expressar a ternura do amor. Dito assim, choca. E esse choque faz-nos reflectir sobre o sentido pleno do sexo e sobre o modo pelo qual o homem há-de cuidar e viver o próprio corpo. Há-de ser um corpo que saiba amar, que sirva para expressar a entrega plena e total da própria pessoa, que saiba ser terno e forte ao mesmo tempo, que saiba expressar corporalmente os matizes profundos e delicados de uma alma enamorada. Mas isso será impossível se a imagem habitual do próprio sexo não é a de instrumento de amor. Uma alma enamorada tem algo de artista. E necessita de um corpo que seja instrumento bem afinado, para poder expressar toda a riqueza do seu amor.

A imagem da mulher-objecto

Se agora nos perguntarmos qual é a imagem do corpo de mulher que os meios de comunicação nos têm vendido, dar-nos-emos conta, com surpresa, de que não é, de forma alguma, a imagem de um corpo de mãe. Se nos limitamos ao que nos têm metido pelos olhos, mais que mães, as mulheres são outra coisa, que é melhor não dizer agora. Digamos que, socialmente, a imagem do corpo de mulher que nos é apresentada hoje é a de mulher-objecto.

Mas então, tiramos a conclusão de que nos têm enganado. Têm-nos vendido uma imagem falsa, inadequada, incompleta. Mais ainda, a ideia de mãe não entra de forma alguma nessa imagem do corpo feminino que os meios de comunicação criaram, do mesmo modo que a ideia de pai está ausente da imagem do homem. Mas vimos há pouco que, se uma pessoa se põe a considerar friamente o que é típico de um corpo de mulher, tira a conclusão de que o que tem de específico e atractivo é o que tem de possível mãe. Não é lógico que seja mais difícil viver adequadamente as relações entre homens e mulheres, se partimos desta imagem enganosa dos meios de comunicação? Naturalmente, é muito difícil entender o sentido e a grandeza do amor sexual se a nossa cabeça enfrenta este assunto a partir dessa imagem.

Corpo de mulher, corpo de mãe

Se um desenhador quisesse traçar em poucas linhas a imagem corporal da mulher, bastar-lhe-ia esboçar o peito e as ancas. E por que tem a mulher esse peito? Há uma razão biológica: porque tem de alimentar os seus filhos. A mulher tem seios porque é uma possível mãe. Se não o fosse, não os teria. Este traço característico da imagem da mulher, que é também um dos motivos que atrai o homem, tem o sentido de ser mãe.

O mesmo podemos dizer desse outro traço que são as ancas. A peculiar forma feminina, deve-se à necessidade de levar a criança dentro, durante a gravidez, e a necessidade de dá-la à luz. Uma mulher de ancas estreitas terá graves problemas nesse momento e talvez haja que recorrer a uma cesariana. Voltamos ao mesmo. A imagem corporal típica da mulher, pela qual se diferencia do homem e de que o homem gosta, corresponde biologicamente ao que tem de possível mãe.

Homens e mulheres

Quando pensamos na diferença sexual, a primeira pergunta é a mais elementar: por que está a raça humana dividida em homens e mulheres? Se não sabemos responder a esta pergunta, dificilmente poderemos saber em que consiste ser homem ou mulher, dificilmente poderemos entender como têm de ser as relações entre eles.

Homens e mulheres temos muitas coisas em comum: a dignidade humana, a inteligência, a capacidade de iniciativa, a responsabilidade, etc. No essencial, temos uma mesma natureza, que adquire matizes diferentes segundo se expresse em masculino ou em feminino. Temos quase tudo em comum. O que é que causa a diferença sexual? Faça o leitor a pergunta a si próprio.

A única resposta convincente é que é preciso ter filhos. Se não fosse necessário ter filhos, as pessoas não se dividiriam em homens e mulheres. E as nossas relações de amor seriam distintas das que são agora. Se existe o amor entre homem e mulher, é porque existem homens e mulheres. E existem homens e mulheres pela necessidade de ter filhos. Isto leva-nos a considerar que aquilo que é específico e diferenciador do homem é ser um possível pai, e aquilo que é específico e diferenciador da mulher, é ser uma possível mãe. O resto é comum a homens e mulheres.

A expressão corporal do amor

Se o corpo é a expressão da alma, o amor expressa-se também através do corpo. As expressões corporais de carinho têm sentido quando há um verdadeiro amor entre as pessoas. Não basta a atracção física ou o simples enamoramento afectivo, deve haver pelo menos um começo de amor conjugal. Então é verdade que essas carícias são expressão de amor.

Se não, do que são expressão é da fome de prazer ou de afecto. E o outro não vive como uma pessoa a quem me entrego, mas como um objecto que satisfaz o meu apetite sexual, do mesmo modo que um caramelo satisfaz o gosto. Quando se usa outra pessoa desta maneira, não a amamos, nem sequer a respeitamos, porque se utiliza a sua intimidade.

A utilização sexual rebaixa irremediavelmente a pessoa, precisamente porque não pode deixar de afectar a sua mais profunda intimidade. Uma vez que o sexo é expressão da nossa capacidade de amar, toda a utilização sexual chega ao mais íntimo e implica a totalidade da pessoa espiritual. O próprio facto de usá-la como objecto já é uma falta de respeito para com a sua pessoa, do mesmo modo que se se usasse o seu corpo para proteger-me dos disparos que outro me pudesse fazer. Isso vai contra a sua dignidade. A experiência indica depois quando algo é expressão de carinho ou simples fome de prazer. Se é simples fome de prazer, é mau, porque estou usando, não amando.

A entrega total

O amor humano autêntico é uma entrega total da própria pessoa: alma, coração, corpo, toda a própria vida, presente e futuro. Quando duas pessoas se amam, sabem que vão compartilhar toda a sua vida. O casal é isto: um com uma para sempre, em tudo, para terminar nos filhos. Já não são dois, mas uma só carne e uma só vida. Antes eram duas vidas independentes que, de vez em quando, coincidiam. Agora estão intimamente ligados, a vida de um é inseparável da do outro. Até nas coisas mais concretas.

Por exemplo, se os projectos profissionais de um numa cidade são incompatíveis com a alergia que o outro sente naquele lugar, como os dois são agora uma só carne, a alergia de um afecta a vida do outro. De facto, o outro sente-a como se fosse própria, ou mais ainda, e sofre. Mas a realidade do amor matrimonial faz que, ou os dois se aguentam, ou os dois saem dali. Porque os projectos profissionais são importantes, mas secundários em relação à grandeza do amor.

Por ser um amor total, o amor entre homem e mulher não pode ser senão de um com uma e para sempre. Porque supõe também a adaptação das duas personalidades, das maneiras de ser e gostos de cada um, que procuram evitar o que prejudique ou desgoste o outro, reconhecendo agradecidos que o outro está a fazer o mesmo para que a vida seja agradável e o amor vá aumentando sem encontrar obstáculos. Desta maneira, as personalidades dos dois cônjuges vão-se influenciando e penetrando mutuamente. A vida de um constitui uma parte real da vida do outro. Romper essa união significaria mutilar a vida interior de cada um dos cônjuges e suporia o fracasso rotundo na aventura pessoal mais profunda que pode empreender um ser humano.

Se uma pessoa diz a outra que a ama, a mesma linguagem supõe a expressão "para sempre". Não tem sentido dizer: - Amo-te, mas provavelmente só durará uns meses, ou uns anos, desde que continues a ser simpática e agradável, ou eu não encontre outra melhor, ou não fiques feia com a idade. Um "amo-te" que implica "só por algum tempo" não é um amor verdadeiro. É antes um "gosto de ti, agradas-me , sinto-me bem contigo, mas de modo algum estou disposto a entregar-me inteiramente, nem a entregar-te a minha vida".

Por a pessoa ser corpo e espírito, o seu amor realiza-se com o tempo, mas é, em si mesmo, para sempre. Ou uma pessoa se entrega para sempre ou não se entregou a si próprio. E, se se entregou, já não se possui a si mesmo em propriedade exclusiva, pois deu o coração e o corpo a outra, que, por sua vez, lhos deu a ele.

No amor conjugal, a intervenção do corpo dá um carácter irreversível à relação de entrega. Com efeito, quando uma pessoa entrega o corpo, é porque se entrega a si própria em plenitude. Mas quando uma pessoa entrega de verdade a alma, tem de ter em conta que implica a totalidade da vida.

Entregar-se "inteiro" é entregar "a vida inteira". Se não, é que não se entregou.

A entrega do corpo é a expressão dessa entrega total da pessoa. Porque o meu corpo sou eu, não é uma coisa externa, um agasalho ou uma máquina que eu uso, mas sou eu próprio. Precisamente por isso, o amor conjugal autêntico inclui, por si, o "até que a morte nos separe". O matrimónio é entregar-se para sempre; entregar o corpo sem se entregar para sempre seria prostituição, a utilização da própria intimidade como objecto de troca: dar o corpo em troca de algo (ainda que esse algo seja o enamoramento), sem ter entregado a vida.

A integração dos três níveis

Estes três níveis integram-se perfeitamente entre si. O amor conjugal apoia-se nos outros dois níveis anteriores e supera-os. Por isso, os outros dois estão feitos para poderem expressar e realizar essa entrega total da pessoa. Isto nota-se, por exemplo, por o enamoramento afectivo e a excitação corporal tenderem a absorver totalmente a pessoa, pois estão feitos para poderem exprimir a entrega total do próprio eu.

A própria dinâmica física do sexo, que enlouquece e está feita para chegar ao fim, mostra que é uma expressão adequada desse amor espiritual que se entrega de todo, até ao fim. De quem está apaixonado a sério, diz-se que está louco de amor. A loucura da carne está feita para poder exprimir e realizar essa loucura do espírito.

O amor é o sentimento mais íntimo e o maior que tem a pessoa humana, o que a absorve por inteiro. Por isso, o prazer que se obtém da sua expressão corporal no acto conjugal é o maior dos prazeres corporais e o que mais absorve. O mesmo acontece com o entusiasmo que provoca o enamoramento afectivo, que tira uma pessoa de si mesma, para a fazer viver no outro.

A alegria e a felicidade da mútua entrega das duas pessoas apoia-se e une-se ao prazer da afectividade e do corpo. Quando os três se unem, que é o previsto pela natureza, é possível alcançar o grau maior de alegria e de prazer. Mas, se se procurar, por exemplo, só o prazer físico, então o próprio prazer diminui. E não satisfaz. Sabe a muito pouco, porque, na realidade, é só uma parte, e a parte mais pequena, da alegria da entrega com alma e corpo, que só é possível na entrega total do casal.

O amor conjugal

A simples amizade com outro, por muito profunda que seja, não significa que uma pessoa lhe entregue toda a sua pessoa e a sua vida, a sua alma e o seu corpo. Essa é a diferença entre a amizade e o amor conjugal entre homem e mulher. A própria estrutura corporal e dos sexos expressa essa mútua referência: o homem está capacitado, na alma e no corpo, para entregar-se inteiramente a uma mulher, e vice-versa.

Há três níveis que constituem o amor entre o homem e a mulher:



- A atracção física: é o nível mais elementar, está sempre presente e é comum à natureza animal. Isto só não basta para fundamentar o amor humano de verdade. Neste nível, o outro pode ser também considerado como um simples objecto do apetite sexual. Mais do que amar, isso seria usar o outro, como se fosse uma coisa.



- O enamoramento afectivo : é uma sintonia entre as maneiras de ser das duas pessoas, que faz com que gostem muito de estar juntos, que gostem de conhecer os detalhes da vida do outro, etc. É já algo tipicamente humano. É o começo do amor, ainda que não baste para um amor autêntico. O enamoramento é um fenómeno espontâneo, não voluntário. Uma pessoa não decide friamente enamorar-se de outra; uma pessoa, sem saber como, encontra-se enamorada. E esse enamoramento deve-se aos aspectos positivos e agradáveis do outro; não tem em conta os seus defeitos. Também pode suceder que uma pessoa goste mais do simples facto de "estar enamorado" - porque produz uma sensação de entusiasmo - do que da própria pessoa de quem se enamora. Nesse caso o enamoramento estaria misturado com egoísmo. Não seria verdadeiro amor. Para ser estável, o enamoramento tem que passar ao terceiro e último nível.



- O amor conjugal : é muito mais que o enamoramento. Não é só um processo espontâneo, mas transforma-se numa atitude voluntária, livremente assumida. O amor que surgiu sem intervenção da vontade converte-se numa decisão livremente assumida de entregar-se ao outro, amando-o tal e como é e como será, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença. Porque aceita a pessoa inteira, não apenas com as coisas boas que o enamoram, mas também com os defeitos que lhe desagradam. E aceita-a como alguém que vai compartilhar e condicionar toda a sua vida. Ama-a não por ser assim ou de outra forma, mas por si própria, a ela, sem mais, para sempre. E entrega-se todo, entrega-se a si próprio, coração, corpo e vida inteira.

Amar com o corpo - a sexualidade humana

Para saber viver a sexualidade, deve-se saber primeiro o que é.

Neste momento temos bastante informação de como funciona o aspecto fisiológico. Mas há uma desinformação generalizada sobre o que é o sexo em toda a sua profundidade e qual é a sua função, e o seu sentido, dentro da personalidade e da vida humana. Este desconhecimento provoca muitos erros práticos, quando se vive a própria sexualidade.

Procuramos aqui reflectir sobre a realidade, descrever o que é o homem, o corpo, o sexo e o amor. E, a partir desta descrição, compreender melhor o profundo sentido que tem a dimensão sexual da nossa personalidade. Assim saberemos melhor como vivê-la.